terça-feira, 21 de outubro de 2008

Após a leitura do capítulo Leveza do livro de Ítalo Calvino, achei o conto mitológico de Perseu muito bem encaixado e inserido no tema que pretendia ilustrar. A recusa de uma visão directa perante medusa e a sua abordagem ágil retratam uma necessidade de procura de nova perspectiva. Contudo esta recusa de uma visão directa não implica uma recusa da realidade mas sim a procura de um novo ponto de vista observando o mundo a partir de uma outra óptica, de uma outra lógica. O conceito encaixa-se perfeitamente no contexto de leveza perante o peso do mundo. Esta ideia de leveza enquanto capacidade de se elevar para além de, faz-me ir ao encontro do romance de Kundera, A insustentável leveza do ser.

É interessante reparar que todos os aspectos ou situações que Kundera associa ou avalia como leve não tardam a revelar o seu peso insustentável. A ideia não é de que o peso surja sempre como consequência dessa leveza mas sim de que de certa forma podemos não estar preparados para ela.

Podemos afirmar em vários casos este peso se impõe perante os nossos limites mentais ou mesmo na sociedade em que nos inserimos. São frequentes os casos históricos de regimes onde a censura apagava ou suprimia, por assim dizer, todos os registos de qualquer ideal ou de qualquer intelectual que tentasse fugir aquele regime conservador. Mas não falando apenas em regimes fechados, podemos também falar de casos onde só apenas anos, senão décadas depois se reconhecera o trabalho de um certo individuo, mostrando-nos uma sociedade de tal modo petrificada que não conseguia suportar essa “leveza”.

São vários os aspectos em que podemos experienciar a imposição do peso perante a leveza e é perante este contexto que pretendo dirigir o meu trabalho. Pensei na água enquanto suporte do meu estudo pois também ela é um corpo com diferentes estados. A sua leveza está associada ao estado gasoso, o qual lhe permite desintegrar-se da restante massa física. Contudo esse não é um estado permanente e nas mais variadíssimas situações a água perde essa sua propriedade e volta ao estado liquido. Esta ideia de ciclo vai de encontro ao trajecto que tenho estado a tentar definir - a incapacidade de conseguir suportar o “peso” da sua própria leveza.